Trato linfoma de Hodgkin, câncer do sistema linfático

Era fevereiro de 2015,  lembro-me que estava trabalhando como responsável pelo setor de “Commodity Steel” (peças em aços) em uma multinacional. Fui promovido com um ano de trabalho, algo incomum na empresa, não me candidatei e até quis evitar tal responsabilidade, mas por imposição profissional, aceite a promoção, trazendo-me uma carga de trabalho/responsabilidade maior. Acumulei as responsabilidades do antigo e do novo cargo por todo o mês de fevereiro, com mais de 12 horas de jornada diária, incluindo o sábado.  

Certa manhã, pela primeira vez, senti dor de cabeça enquanto guiava a caminho do escritório, entre São Bernardo do Campo e o Bairro da Lapa em São Paulo. A dor foi tão intensa que quase perdi a direção do carro. Pensativo, parei na padaria para tomar um café, com a chegada de um colega e a correria do dia a dia o ocorrido logo fora esquecido. Mas, depois de umas poucas semanas, a dor de cabeça já era frequente, todos os dias tomava analgésico para suportá-la.

Na semana do Carnaval, com coceira pelo corpo fui ao pronto socorro e mesmo sendo diagnosticado com urticária, comprei os remédios receitados e viajei para o interior do estado. Lá, as coceiras viraram alfinetadas, como se milhões de agulhas me picassem ao mesmo tempo, uma sensação desesperadora, tomava muitos banhos por dia, eles aliviavam o desespero e quando não estava no banho, estava jogando água de caneca sem parar, para tentar amenizar a angústia. 

Lembro-me que fui ao hospital local todos os dias, recebia sedação para aliviar o desespero, mas não resolvia o problema. O carnaval acabou e eu estava na mesma situação, era impossível dirigir, minha irmã teve que me trazer, deixando-me no hospital em São Bernardo do Campo, onde fui internado, com diagnóstico de intoxicação alimentar. Somente na semana seguinte ao carnaval me foi dada alta hospitalar e voltei ao trabalho ouvindo críticas e piadinhas de que o carnaval tinha sido muito bom. Aconteceu ainda algumas outras vezes, devido ao excesso de trabalho não busquei um diagnóstico conclusivo.

Passaram-se os meses e as dores de cabeça pioraram, eu me sentia cada vez mais fraco, emagrecia cerca de dois a três quilos por mês, dormia pouco, acordava ensopado devido a sudorese (isso eu descobri depois), buscava ajuda médica, com idas frequentes aos hospitais, mas sem achar o problema e por diversas vezes fui criticado.

A partir de julho daquele ano, reduzi a jornada de trabalho para cerca de seis horas diárias. No início de setembro, com o trabalho em dia, e estando cerca de 15 dias fora de casa, esgotado, tomando remédios para dores de cabeça de quatro a seis vezes ao dia, sem condições físicas de ficar em pé, dores de cabeça insuportáveis, com a visão começando a falhar, vendo tudo dobrado (diplopia) e embaçado, sem conseguir andar sozinho, com ajuda de outras pessoas peguei minha bagagem e fui de táxi direto do aeroporto para o hospital em São Bernardo do Campo onde me diagnosticaram uma forte sinusite.

Já sem forças avisei a empresa que ficaria a semana em casa e em repouso total. Passado uma semana sem que a situação melhorasse voltei ao hospital e o médico insistiu na recomendação de repouso, ter paciência, que iria melhorar. Felizmente, o ambulatório da empresa acompanhava meu caso, fui orientado a procurar o hospital Samaritano em São Paulo.

O médico que me atendeu no Samaritano logo percebeu que meu olho estava direito estava paralisado, isso com um simples exame de “acompanhe meu dedo”, o diagnóstico: paralisia do nervo uni cranial. Internado para investigação do motivo, com suspeita de câncer, retirei um dos linfomas e teria que aguardar mais 10 dias para confirmação do diagnóstico. Mas, depois de cerca de 20 dias internado, resolvi continuar o tratamento com remédios contra a dor em casa, até que passados mais 15 dias, o médico me ligou, enfático, confirmou o diagnóstico de câncer, recomendando que eu fosse para o hospital na manhã seguinte para internação. Comecei a chorar no mesmo instante, e com soluções, ele tentou me acalmar, mas a única coisa que consegui responder foi: “certo, amanhã então”. Desliguei o telefone e chorei como criança, não lembrava da última vez que havia chorado tanto.

Lembrei-me do meu filho, com 13 anos na época e de minha mãe, pessoa muito emotiva. Decidi que eu seria forte, pelas pessoas que amo, ficaria bem e feliz, mas mesmo assim, confuso, não conseguia dormir, com pensamentos negativos, de sofrimentos, dores e morte.

Na manhã seguinte, fui hospitalizado e iniciei os procedimentos para iniciar a quimioterapia, este primeiro passo correu muito bem e em uma semana recebi minha primeira sessão de quimioterapia. Mas, já nos primeiros minutos que a substância entrou no meu corpo, o choque foi tão forte que, das oito sessões que fiz, quatro delas eu desmaiei e acordei só horas depois. O cheiro de tudo é insuportável nos primeiros dias, por três ou quatro dias só tomava água e mesmo assim, enojado. Também eram três dias de cama pois o mundo girava e deitado, era mais fácil de suportar o mal estar. Eu sempre me isolava, minha mãe preparava minhas refeições e meu sobrinho levava ao meu apartamento, todos os dias, gratidão imensa aos dois, em especial ao meu sobrinho que durante quase todo o processo me auxiliou em tudo que necessário.

Foram quase 4 meses sem enxergar bem, dependia dos outros, já que enxergava tudo em dobro (diplopia) e tudo embaçado. Eu me questionava se a minha visão voltaria ao normal, quais seriam as sequelas? Estas e outras dúvidas pairavam em minha mente, diariamente. E foi na semana do Natal de 2015 que percebi uma melhora na visão, nesta época já tinha feito 4 sessões de quimioterapia, sinal de que o tratamento estava surtindo efeito, as dores de cabeça também haviam melhorado substancialmente, e justamente nesta época eu senti uma enorme gratidão enorme, pelo PAI (O criador) que sempre cuidou de mim, por estar vivo, pela minha família, por ter um bom emprego que me proporcionava um acompanhamento médico hospitalar de primeira qualidade, pelo apoio dos amigos, dos colegas de trabalho, etc. E foi este meu presente de Natal, o melhor de todos, saber que tudo estava correndo bem, e confirmar o que os médicos disseram que a quimioterapia faria os linfomas reduzirem de tamanho e tudo voltar para o lugar, e assim foi com a minha visão, na virada do ano já enxergava quase que normalmente.

Continuei o tratamento em 2016, intercorrências atrasaram as últimas 4 sessões, como por exemplo baixa imunidade, sendo necessário parar o tratamento. Um dos remédios fazia a coluna latejar por uns dois dias, um momento difícil também, mas que como os demais foi superado, com muita resignação, coragem, fé, e claro também muitas risadas, porque eu sempre escolho o caminho positivo, eu não vejo outra possibilidade na minha vida. Acabei as sessões em fevereiro de 2016, lembro-me que na última fiquei internado por duas semanas, bem debilitado e quando estava no estacionamento do hospital, passei mal, chegando a vomitar, e por pouco não me deixavam sair de lá, mas o desespero foi tanto, que eu me impus, estava de alta e disse que não aceitaria ser internado de novo, estava muito feliz de estar indo para casa para desistir assim já próximo ao carro…

História de Eliel Stofel de Souza

2 thoughts on “Trato linfoma de Hodgkin, câncer do sistema linfático

  1. Quando recebi o diagnóstico de câncer eu também decidi que seria forte pela minha família. E me coloquei nas mãos de Deus. Venci!!!

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