Você já ouviu a frase: “Preto de alma branca?” ou “Biscoito Oreo, preto por fora, e branco por dentro!”? Ele é usado para “elogiar” uma pessoa preta enaltecendo seus valores que só se tornam positivos porque se assemelham aos de uma pessoa branca.
Quando adolescente, tive a oportunidade de estudar violino, o que me fez despertar interesse por música clássica. Não me atrevo a dizer que sou violinista, pois existe um grande abismo entre estudar um instrumento e saber tocá-lo.
É como dizer que ler a bíblia lhe garantirá passagem sem escalas para o céu. Ou, saber todas as escalações dos times de futebol do mundo, saber todas as regras e concessões te garantem ser craque, mas ao ter uma bola aos seus pés, ser incapaz de chutar na direção correta.
Certa vez, estávamos em uma mesa de bar, jogando muita conversa fora, chegou o assunto instrumentos musicais que “sei tocar” e “que gostaria de tocar”.
Eu já imaginava que ninguém iria acertar o instrumento que eu havia estudado, então pedi para que cada um chutasse um instrumento, me vieram as opções: Cavaquinho, Violão, Pandeiro, Repique e Berimbau.
Nada mal, não acham? Todo instrumentos maravilhosos e de forte apelo à cultura popular brasileira.
Quando eu respondi violino, o espanto foi geral e para me “elogiar” um colega comentou: “Você é uma negra de alma branca, pois tem ótimo gosto musical!”

Ele não foi o primeiro e nem o último a fazer tal comparação. Fiz muitas reflexões sobre esse acontecimento que se repete em diversas circunstâncias. Eu tenho certeza que ele não quis me ofender, ou reduzir a riqueza da minha ancestralidade, mas ele repetiu um padrão que para se elogiar uma pessoa preta, é necessário se referir a alguma branquitude.
Nós somos basicamente aquilo que consumimos, música, livros, filmes, poemas, artes e afins.
Notei que nossa musicalidade preta é tão incrivelmente gostosa, energizada e restauradora, que escolhi uma música, de autoria e interpretação preta, que também traz uma poesia reflexiva sobre o olhar da nossa IDENTIDADE.
Eu recomendo escutar essa música com fones de ouvido e se imaginar no personagem que narra o poema.
Música: Identidade
Interpretação: Jorge Aragão
“Elevador é quase um templo
Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso
Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai
Quem cede a vez não quer vitória
Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história
Se o preto de alma branca pra você
É o exemplo da dignidade
Não nos ajuda, só nos faz sofrer
Nem resgata nossa identidade”
https://www.youtube.com/watch?v=j59LwZB2ihw

Muito legal essa reflexão. Acredito que muitas pessoas falam sem noção do que ela significa. Assim como essa frase há muitas expressões que são de origem racista. Então a importância de pensarmos antes de repetir frases e expressões prontas.
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