Eu e a Covid

Quando peguei o meu resultado positivo para o teste de Covid-19 fui invadida por um misto de sentimentos. Eu já estava isolada há dois dias por “precaução”, pois pelos meus sintomas de perda do olfato e paladar, eu sabia que o resultado seria esse, mas ainda assim foi um susto.

Mesmo cuidando-me bastante, eu sempre pensei que pegaria Covid-19. Por ser uma doença que já faz parte do nosso dia a dia estamos sujeitos a contrai-la a qualquer momento, porém, eu sempre imaginei que quando isso acontecesse, seria tudo muito tranquilo para mim, uma vez que eu não sou do grupo de risco e não tenho um histórico de doenças recorrentes, no entanto não foi bem isso que aconteceu quando eu abri o resultado.

De início, eu tomei um grande susto, senti um pouco de ansiedade e cheguei a chorar de medo, deixando de lado todas as certezas que eu tinha até o momento e a confiança no meu histórico de boa saúde. Além disso, o meu maior medo era transmitir para alguém da minha família, sendo a minha mãe a minha maior preocupação, uma vez que ela mora junto comigo, é do grupo de risco e estava cuidando de mim. Para protegê-la, eu passei 15 dias trancada dentro do meu quarto e isso foi a melhor coisa que eu poderia ter feito.

Nos primeiros dois dias eu me deixei ser dominada por esse medo e pensava em tudo de pior que poderia acontecer comigo e com minha mãe, porém, a partir do terceiro dia, graças as muitas mensagens positivas que recebi e ao amor da minha mãe e de meus familiares que me fortaleceram muito, eu consegui enxergar que precisava retomar o controle da minha mente e das minhas emoções, consegui me acalmar e mudar os meus pensamentos.

Ao invés de me concentrar na doença e na sua gravidade, eu comecei a me focar em agradecer por estar passando por essa situação de maneira tão “leve”, frente aos riscos que ela pode oferecer para qualquer pessoa. Eu voltei meus pensamentos para agradecer por estar recebendo tanto amor e carinho dos meus amigos, por ter a minha mãe cuidando de mim, sempre confiante e com um sorriso no rosto e principalmente por eu ter tido a oportunidade refletir, com calma, a respeito de algumas situações da minha vida, pois em nosso dia a dia dificilmente paramos para pensar sobre isso.

Durante a minha quarentena, eu tive dias mais fáceis e outros nem tanto. Alguns dias eu acordava bem disposta e em outros eu precisava de um banquinho para tomar banho, pois o grande cansaço não permitia que eu fizesse isso em pé. O meu maior medo continuava sendo transmitir o vírus para a minha mãe e mesmo tentando sempre manter o pensamento positivo, isso me acompanhou durante todo o período.

Hoje, faz mais de um mês que eu testei positivo e mais de 15 dias que a minha quarentena terminou. Eu continuo sem olfato e paladar, mas isso não me incomoda, pois sinto que recebi as maiores bençãos que poderiam ter sido enviadas. Eu vivenciei essa doença de forma branda, sem nenhum dos sintomas mais severos e agora estou curada. Minha família está bem e minha mãe mantém-se a salvo. A única “sequela” que permaneceu foi a gratidão. Gratidão pela vida, gratidão pelas pessoas que estão ao meu redor e me acompanham nessa caminhada, gratidão pela família que eu tenho e gratidão por ter descoberto essa força tão grande dentro de mim.

Eu não subestimaria essa doença ao ponto de dizer que determinada porcentagem da nossa cura é o nosso controle psicológico, mas ele tem sim um papel fundamental em nossa recuperação, pois ao conseguirmos nos acalmarmos e voltar os nossos pensamentos para o que é positivo, conseguimos fortalecer nossa fé e focarmos na evolução do nosso processo de cura.

Ao final, a principal lição que eu tiro de tudo isso é a de que, sempre que possível, precisamos nos esforçar ao máximo para conseguir enxergar o lado bom das coisas, ainda que isso demande um grande esforço, bem como devemos sempre agradecer quando nos sentirmos abençoadas e privilegiadas frente as situações que enfrentamos na vida.

Eu em viagem ao Atacama, Chile

Eu ainda não consigo agradecer por ter pego a doença, em razão da gravidade dela, mesmo que essa situação tenha me proporcionado a possibilidade de enxergar algumas coisas de maneira diferente, mas eu agradeço por ter tido a oportunidade de poder refletir sobre o que realmente tem valor nessa vida, agradeço por ter tido a chance me sentir tão amada pelos meus amigos e familiares, agradeço por ter tido novamente a oportunidade de me sentir tão bem cuidada e amada pela minha mãe e principalmente, por ter tido a chance de desligar o modo automático que nós nos acostumamos a viver e voltar a minha atenção para o meu futuro, para os sonhos e as conquistar que desejo alcançar nessa vida.

História de Marjorie Precioso

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