Gritaram-me negra!*

Eu que falo sobre diversidade há tanto tempo, e que vivo a interseccionalidade** desde que nasci, aprendi demais nesses últimos tempos.

Recentemente fui alvo de racismo em uma rede social, que me deixou muito triste e me fez repensar várias coisas.

Eu tenho reforçado em minha fala que todo ato de violência deve ser denunciado, com ou sem medo do agressor, mas com essa minha última experiência, ficou evidente que não é tão simples assim, pois quando se toma um tiro a queima roupa, como num ataque racista, é muito difícil extrair a bala; costurar a ferida; se auto cuidar; denunciar; desarmar o agressor; e ainda relatar o ocorrido.

Mais do que a CORAGEM para denunciar uma agressão é preciso ter um lugar/pessoas de acolhimento, escuta empática, respeito pelo ser humano que nunca diminua ou ridicularize a sua dor.

Se fosse 5 anos atrás, eu não iria contar para ninguém. Eu iria chorar e sofrer sozinha com o sentimento de que ninguém iria me entender. Mas, tive o privilégio de contar com uma rede de apoio INCRIVELMENTE LETRADA e MARAVILHOSAMENTE DETERMINADA a me dar todo suporte que precisei.

Se você tem uma pessoa preta na sua vida essa mensagem é para você, saia do lugar de “eu não sou racista, isso é ‘mimimi’, parem de se vitimizar” e vá para o lugar “eu estou em desconstrução, e estou disposto a aprender e mudar”.

Não há mudança se não houver um letramento, não tem letramento se as pessoas não entenderem que o racismo é um problema de todos, e todos precisam mudar essa mentalidade endurecida de que preto não tem vez e nem voz.

(*) aproveito para compartilhar um poema de Victoria Santa Cruz: “Me gritaron negra”  PRIMAVERA DAS MULHERES:

fonte: https://www.youtube.com/watch?v=G11sEdJ4J5s

** Interseccionalidade é pensada como uma categoria teórica que focaliza múltiplos sistemas de opressão, em particular, articulando raça, gênero e classe. O termo, nas palavras de Carla Akotirene: “… Nesse sentido, a interseccionalidade permite uma maior compreensão acerca das desigualdades raciais existentes”.

História de Jessica Ferreira Silva de Souza

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