Xenofobia em São Paulo

Na minha infância sofri do que se poderia chamar de bairrismo, no dicionário, encontramos  “bairrismo”  como defesa das qualidades do bairro ou da terra de alguém, defesa exagerada das virtudes em comparação à terra natal do outro. Eu chamo de xenofobia (desconfiança, medo ou antipatia por pessoas estranhas, de quem vem de fora).

Eu nasci em São Paulo, na zona leste da cidade, região que acolheu migrantes nordestinos em sua grande parte. Meus pais são pernambucanos, mas se conheceram aqui em São Paulo.

Infelizmente, no sul e sudeste do Brasil há muitos brasileiros que chamam preconceituosamente pessoa com origem em qualquer estado acima de Minas Gerais como baiano. Não reconhecem, por preconceito, falta de cultura, de educação, as ricas diferenças geográficas e culturais dos estados do norte e nordeste brasileiro. O baiano, alagoano, sergipano ou pernambucano, é orgulhoso de sua origem e assim quer ser identificado.

Existe xenofobia em São Paulo

Na infância, fora do ambiente familiar sofri com o uso corrente de expressões nordestinas, como o “oxente”. Tanto pior quanto à expressão da fé, da aceitação de minha formação religiosa de matriz africana.

Para pessoas ignorantes, fundamentalistas cristãs, o Candomblé e Umbanda são religiões atreladas ao mal, à figura do diabo. Para o candomblé e a Umbanda não há a figura do diabo ou do inferno.

Mais tarde, na juventude, pude partilhar com outras jovens o sentimento de intolerância por conta de nossas maneiras de falar ou expressar nossa fé, onde, infelizmente, nos sentíamos forçadas a adotar um comportamento paulista e paulistano de falar para ser aceitas socialmente. Mas, não há felicidade maior na vida, do que em reuniões familiares, se expressar livremente, longe de olhares discriminadores, preconceituosos, com nossos sotaques característicos, nossos “oxes” e oxentes”!

Compartilho uma música que traz reflexão:

Reza Vela – Norte Nordeste Veste (part. Rapadura)

“Minhas irmãs, meus irmãos
Se assumam como realmente são
Não deixem que suas matrizes, que suas raízes
Morram por falta de irrigação
Ser nortista e nordestino meus conterrâneos
Num é ser seco nem litorâneo
É ter em nossas mãos um destino nunca clandestino
Para os desfechos metropolitanos

Hei! Nortista agarra essa causa que trouxeste
Nordestino agarra a cultura que te veste
Eu digo norte vocês dizem nordeste
Norte Nordeste! Norte Nordeste! …”

História de Jessica Ferreira Silva de Souza

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