Câncer de Mama: bati o carro minutos antes da avaliação pré-cirúrgica

Saí de casa, como sempre, com os minutos contados para chegar a tempo para a consulta da avaliação pré-cirúrgica. Nessa batalha contra o tempo, o trajeto e o trânsito intenso que teria mais à frente, pensando nos compromissos de trabalho que teria que cumprir, nos exames que teria que fazer, eis que meu celular apoiado abaixo do console, próximo à alavanca do câmbio, movimentou-se e perdeu a configuração do GPS com o trajeto que eu deveria fazer. Nesse momento eu acessava a via principal e tentava ao mesmo tempo tocar a tela do navegador, parecia estar sozinha naquela rua, meus pensamentos se desviaram da consciência momentaneamente, tentei levantar o aparelho e tocar para recuperar a imagem do trajeto…

Nesses segundos, em que olhei para o navegador e voltei o olhar para a via em que seguia, percebi que o carro já não estava mais na via de circulação, mas sim sobre o canteiro central, mais rápido do que eu imaginava estar dirigindo.

Entre uma tentativa e outra de voltar para a via, vendo imagens rápidas de plantas e galhos ficando para trás, ouvi um estouro e vi claramente meu carro seguindo sem controle, por mais que eu tentasse controlar,  ao encontro do tronco de uma árvore.

Não podia acreditar no que estava acontecendo naquele momento. Mas aconteceu. Lembro-me dos meus pensamentos nesse instante “Mais isso! Como se não bastasse um câncer”.

Em meio ao pó branco do air bag que que se espalhou pelo carro, abri a porta e desci. Olhei se estava tudo bem em meu corpo. Tinha alguns arranhões no braço, na perna e tornozelo. Enfim, estava bem.

Chegou, então uma moça, muito calma, que usava uma roupa esportiva, e veio conversar comigo para ver se eu tinha me machucado e se precisava de ajuda. Caminhamos para a calçada, ela, gentilmente, foi até meu carro e pegou meu celular para que eu pudesse ligar para alguém.

Enquanto eu ligava para meu marido, pois estava muito próxima de casa ainda, chegou outra moça que disse que seguia na mesma via, logo depois do mim e que viu como tudo ocorreu. Falei com meu marido pelo celular e ele veio para me ajudar.

Essa outra moça, tranquilamente, disse que vinha atrás de mim e achou estranho o carro desgovernado.

Logo meu marido chegou. Passei, então, a ele a responsabilidade de verificar o que fosse necessário com o carro e desabafei “eu não posso perder minha consulta, pois minha cirurgia será daqui a cinco dias, e, como se trata de um câncer não dá para esperar”. Disse que precisava ir para o hospital para não correr o risco de adiar minha cirurgia. Era como se cada segundo fosse decisivo para a minha cura.

A simpática moça, a que dirigia logo atrás de mim, ao ver minha angústia, gentilmente, ofereceu uma carona para me levar até o hospital onde passaria pela consulta médica de avaliação. Eu aceitei. Fui como estava: arranhada, com pó do air bag na roupa, no corpo e no cabelo. Mas consegui. Apesar de todos os problemas que tive com o carro depois, essa foi minha primeira vitória de desafios contra o câncer.  Os próximos passos seriam realizar os exames já agendados e aguardar a cirurgia com muita fé de que daria tudo certo.   

História de Mariza Silva    

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